UNIVERSIDADE
DO ESTADO DA BAHIA
SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Especialização
em Metodologia de Ensino para a Educação Profissional
Aparecida Gardênia Morais de Oliveira
Erleide Cunha Morais
Maria Aparecida Menezes do Rego
Márcia Oliveira Meira Silva
Rita Paixão Defensor Menezes Rêgo
O SENTIDO DO
TRABALHO
BARREIRAS-BA
2013
UNIVERSIDADE
DO ESTADO DA BAHIA
SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Especialização
em Metodologia de Ensino para a Educação Profissional
Aparecida Gardênia Morais de Oliveira
Erleide Cunha Morais
Maria Aparecida Menezes do Rego
Márcia Oliveira Meira Silva
Rita Paixão Defensor Menezes Rêgo
O SENTIDO DO
TRABALHO
Produção textual
apresentada à Unidade Formativa I
como objeto de avaliação para o Módulo Educação e Trabalho, solicitada pelo Dr.
Jorge Luiz B. Ribeiro.
BARREIRAS-BA
2013
Introdução
Ao se investigar o sentido do trabalho, no contexto
da Educação Profissional voltada para a cidadania, é necessário um retorno às
suas origens quando o homem trabalhava de forma conjunta com seus pares. A
partir dessa forma primitiva de se educar, trabalhar e educar, transformações
ocorreram na sociedade e, em consequência, nos processos, divisões e formas de
compartilhar as ações produtivas. Com a divisão de classes, surgindo as
primeiras formas do capitalismo, os homens passaram a compor, por um lado, o grupo dos proprietários e por outro, o
grupo dos desafortunados que nada possuíam além de sua energia potencial a ser
vendida para sua sobrevivência. Com o advento das grandes revoluções, a exemplo
da Francesa e da Industrial, os meios produtivos foram evoluindo e as relações
de trabalho tornando-se mais precárias, em virtude da exploração da mão de
obra. Nesse ínterim, a educação formal para o trabalho se resumia às escolas
dos artífices cujos mestres ensinavam o ofício aos aprendizes e lhes
recompensava com casa e comida. A escola formal era destinada aos membros da
elite que se instruíam para serem gestores e/ou intelectuais. No início do
Século XX o modelo de organização do trabalho implantado nas indústrias Ford,
com base nos princípios de Taylor caracterizou um dos momentos das lutas de
classe. Com a crise na década de 70,
novas formas de produção tiveram que ser buscadas e novos perfis dos
trabalhadores que a partir de então necessitavam ser polivalentes e não mais um
autômato nas linhas de produção fordista. A crise do petróleo e das
contradições próprias do capitalismo afetaram o mundo inteiro e o mesmo ocorreu
no Japão, cuja taxa de crescimento econômico havia caído a nível zero e foram
inúmeras empresas que sofreram impactos. Entretanto esse impacto não refletiu
da mesma forma na Toyota Motor Company, devido ao modelo idealizado pelo
Engenheiro Taiichi Ohno que já o desenvolvia desde o pós II Guerra. O Toyotismo como ficou conhecido o modo de
produção japonês, foi idealizado para eliminar totalmente o desperdício e
superar o paradigma de produção em massa americano. Esse sistema se fundamentou
em dois pilares: o Just-In-Time (JIT) e
a autonomização com um toque
3
humano
(OHNO, 1997). O Toyotismo influenciou e ainda influencia os modos de produção capitalista,
uma vez que novas habilidades são exigidas do profissional que precisa atender
de forma polivalente e politécnica ao novo formato empresarial, o capital
intelectual recebe novos valores nos ativos das empresas e, nesse contexto a
educação profissional assume posição essencial na era do conhecimento. Com a
necessidade de suprir as empresas com mão de obra qualificada a educação
profissional assumi papel importante, uma vez que a sociedade de consumo
contemporânea impõe que tudo circule em sua volta, em especial o trabalho, e
considerando a centralidade do trabalho na vida humana e da maneira que este
atravessa as expectativas, as necessidades, a identidade e subjetividade do
trabalhador, atualmente a formação do trabalhador tem se desenhado numa construção
de valores que influenciam os aspectos sociais, culturais, educacionais,
políticos e econômicos. Através de
programas estabelecidos via políticas públicas educacionais, tais como
Pronatec, medidas educativas baseadas no trabalho como princípio educativo vêm
sendo implantadas nas escolas públicas, com objetivo de atender à demanda e
assim evitar o total “apagão” por mão de obra qualificada.
O presente texto tem como foco a reflexão sobre o mundo do trabalho na
atual conjuntura brasileira de acordo com as novas relações de trabalho casadas
com as não tão recentes propostas de educação profissional, perfazendo uma
linha da história das relações de trabalho e de educação formal para o
trabalho.
4
Educação Profissional no Brasil
O sentido do trabalho para
a cidadania apoia-se na premissa da educação como princípio educativo e este
considera a premissa de que o trabalho é o meio essencial para apreensão do
conhecimento em sua totalidade.
Nem
sempre o trabalho teve essa conotação, de princípio educativo, embora sempre
tenha estado atrelado à educação, em face de que o homem, desde os seus
primórdios, trabalha e educa e ao trabalhar se educa.
As
profundas transformações de cunho político, econômico e social vêm ocorrendo
nas últimas décadas do Século XX e princípio do Século XXI e na
internacionalização do capital se fundamenta a reestruturação nas formas
produtivas. Nesse contexto a idealização de nova educação profissional se
firma. Uma educação que eduque não só para o mundo do trabalho, mas também para
exercício da cidadania. A metodologia a ser aplicada na formação educacional do
futuro profissional precisa se apoiar nas Tecnologias da Informação e
Comunicação de modo que este aprenda a lidar com a Natureza, que se
conscientize com sua responsabilidade solidária com a sustentabilidade, que
analise os impactos ambientais benéficos ou maléficos, que proponha
alternativas tecnológicas sociais viáveis de aplicabilidade nas comunidades
locais e regionais.
O MEC visando
prestar auxílio na implantação de uma nova proposta de Ensino Médio editou o
Documento Base intitulado “Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Integrada ao Ensino Médio” (2007) e com base nesse documento as entidades
estatais elaboraram suas diretrizes fundamentadas na LDB/96 que teve os
capítulos e seções dedicadas ao Ensino Profissional modificados pelo Decreto
5154/2004. Anteriormente, pensando
apenas em atender Educação Profissional Técnica desvinculando-a do Ensino
Médio, assim ficou dissociada a formação geral da profissional. Entretanto,
buscando promover correções a esse modelo educacional, Lula fez propostas nesse
sentido:
[...]
uma das mais
relevantes, em razão do seu fundamento político e por se tratar de um
compromisso assumido com a sociedade na proposta de governo, foi a revogação do
decreto n. 2.208/97, restabelecendo-se a possibilidade de integração curricular
dos ensinos médio e técnico. (FRIGOTTO, CIAVATTA E RAMOS, 2005).
5
Assim o decreto 5.154/2004 retorna o vínculo entre o trabalho e educação
buscando superar a dualidade presente entre formação específica e formação
geral (BRASIL, MEC, 2007).
A educação profissional tem como
objetivo habilitar o indivíduo para o exercício da profissão juntamente com a
possibilidade de continuar seus estudos numa faculdade, o que deixa claro que a
função da educação é possibilitar um ingresso no mundo do trabalho para gerar
riquezas e suprir as necessidades que o Brasil apresenta de profissional em
várias áreas reduzindo ou eliminando o apagão profissional.
Ao ligar a TV para assistir
jornais ou programas educativos o que se nota enfaticamente é a divulgação de que
o mercado necessita de profissionais habilitados, o que gera uma grande demanda
por cursos técnico-profissionalizantes para suprir as necessidades desse
mercado ocioso de profissionais qualificados. Os cursos técnicos de segundo
grau – EMI, Subsequente e Proeja- são de longa duração, entre dois e quatro
anos o que levou o Governo Federal a criar em 2011 o PRONATEC (Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) com cursos de curta duração
para estudantes do terceiro ano do ensino propedêutico, sendo assim uma forma
rápida de introduzir no mercado profissionais capacitados.
O foco da educação profissional
na atualidade não é promover exclusivamente a capacitação profissional, mas sim
a união entre a formação propedêutica e profissional, o que confere ao educando
um leque a mais de habilidades, competências e possibilidades.
A educação profissional na
atualidade não tem mais o objetivo de treinar o homem para exercer uma
profissão como algo mecânico, o objetivo hoje é prepará-lo para atuar no mundo
do trabalho de maneira integrada, conhecendo os processos produtivos, as
relações sociais geradas por esses processos e principalmente sendo agente
consciente desses processos.
Nesse contexto a educação
profissional deve organizar seu currículo escolar de maneira interdisciplinar
com metodologias que proporcionem ao educando sua formação ética, científica,
dinâmica, prática e discursiva para a compreensão dos processos sociais e sua
posição dentro desses processos.
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O Novo
Trabalhador
A nova organização do trabalho
não requer um sujeito que esteja qualificado para exercer apenas uma função
exclusiva, hoje o trabalhador precisa ter várias habilidades e conhecimentos
para se movimentar em vários setores, ou seja, o modelo atual de trabalho
requer uma formação ampla do sujeito, com vastos conhecimentos e
possibilidades.
Nas últimas décadas, e em
especial a partir de 1970 o mundo de uma forma generalizada passou a conviver
com uma crise do sistema capitalista de produção. A prosperidade na acumulação
de capital, ocorrida nas décadas de 50 e 60, quando o Fordismo e Keynesianismo
tiveram seus ápices, começou a sinalizar criticidade em seu panorama e
tornaram-se visíveis alguns aspectos denotando tal situação. A exemplo dessa
sinalização tivemos: redução no lucro baseado em excesso produtivo;
esvaziamento do paradigma de acumulação fordista/taylorista; desvalorização do
dólar; crise do “Estado de Bem-estar Social” (Welfare State);
aprofundamento das lutas sociais e o pico com a crise do petróleo; tudo isso intensificou
o quadro crítico.
A crise do petróleo,
consequência do aumento de preços do produto autorizado pela OPEP e do embargo
árabe às exportações do produto para o ocidente, gerou uma elevação no preço
internacional do barril do petróleo e os empresários, donos do capital e meios
produtivos, para manter a taxa de lucratividade necessitavam realizar
investimentos em máquinas e equipamentos, fato que não gerava mais-valia,
diminuindo o lucro. Além disso, a inflação elevava as taxas de juros tornando o
dinheiro a ser investido mais oneroso e assim prejudicando o lucro que é a meta
do sistema capitalista.
O capitalismo possui
aspectos internos contraditórios que não se superam, pois a taxa de lucro é
diretamente dependente do fator de exploração da força de trabalho. Dessa
forma, para se obter lucros e mais lucros, a exploração do trabalho é
intensificada. Havendo má distribuição de renda entre os membros da sociedade
decorrerá a geração de poupança da “elite” que atrapalha o consumo e em consequência a produção.
HUBERMAN se preocupava
com a restauração
do
7
mercado (por conseguinte, dos lucros)
através do aumento do poder aquisitivo das massas. Em contraposição, HAYEK, se
preocupava com a restauração do lucro pela redução da capacidade aquisitiva das
massas.
Com a crise estruturada, o
intervalo entre 1965 e 1973 evidenciou a impossibilidade e ineficácia do
fordismo e keynesianismo em controlar as contradições do capitalismo. Tal
incapacidade pode ser traduzida pela rigidez que ocorria no processo produtivo
fordista. Com a retração do mercado não havia condições de resistir a produção
em massa e rígida do fordismo. Em meio a essa crise estrutural da economia
mundial desponta como alternativa de modelo produtivo a adoção do paradigma
conhecido como Toyotismo que teve sua origem sócio-histórica no Sistema Toyota
tornando-se adequado à nova base técnica da produção capitalista, que ora se
vincula à Terceira Revolução industrial exigente de inovadoras condições de
concorrência.
Com o mercado consumidor
instável, já não se pode produzir em “massa”, pois não há demanda para estoques
altos. O Toyotismo surge com as características da flexibilidade, da inovação,
do aproveitamento da subjetividade dos trabalhadores e de sua dimensão
intelectual do trabalho que provém do chão da fábrica, que o fordismo
desvalorizava como nos diz ANTUNES (1999, p. 206). Nesse modelo, há a
flexibilização nos processos de trabalho e se apoia também na flexibilização
dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Dessa forma se
promove a acumulação flexível de capital que vai se caracterizando pelo
aparecimento de setores produtivos inovados, novas formas de fornecimento de
serviços financeiros e elevadas taxas de inovações comercial, tecnológica e
organizacional para atender à flexibilização do processo produtivo e uma
renovada forma exploradora da força de trabalho.
Quem é o homem que atua
nesse processo produtivo? Durante as grandes revoluções que impactaram a
economia mundial e desde que se conhece a educação formal ou não, esta vem se
mantendo com um caráter dualista que visa atender à dividida classe social onde
estão a elite, dona do capital e os trabalhadores, donos da força de trabalho.
À medida que o capitalismo se fortalecia o trabalhador era explorado, sem
recompensa salarial e se no fordismo ele desempenhava uma única tarefa, de forma repetitiva e especializada, no toyotismo
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temos o trabalhador polivalente, que
desempenha múltiplas tarefas, que são também repetitivas. ALVES (2000,11) chama
este panorama de “‘o novo complexo de reestruturação produtiva’ que envolve um
sistema de inovações tecnológico-organizacionais no campo da produção
capitalista”. Contudo no toyotismo, para se alcançar alta produtividade e para
controle da qualidade do produto durante seu processo produtivo, os empregados
se submetem a treinamentos enfatizando a corresponsabilidade entre os membros
da equipe.
De acordo com HANDFAS
(2006, 221), no contexto da reestruturação produtiva e
“Na esteira
das transformações ocorridas nos processos de produção, predominou um discurso
sobre a urgência na formação de um “novo” tipo de trabalhador, autônomo e
coletivo. Esse discurso apresentava como um de seus pressupostos a ideia de que
a introdução de novas tecnologias nos processos de produção, assim como suas novas
formas de organização, trariam a necessidade de incorporar novos requisitos à
formação do trabalhador, promovendo maior qualificação da força de trabalho”.
As transformações
econômicas provocando mudanças nas condições de produção vão impactar na formação
do trabalhador e foram vários os questionamentos postos em discussão, tais
como, polivalência, politecnia, competências, qualificação, enfocados sob
vários aspectos analíticos. Diante dos avanços tecnológicos surge a necessidade
de um trabalhador melhor qualificado, que tenha iniciativa, exponha suas
ideias, apresente soluções, que saiba trabalhar em equipe, ou seja, são muitos
atributos que deve apresentar para garantir uma posição no mundo do
trabalho. Pastore (1995, 36) já dizia que: “está claro que o mundo
do futuro exigirá muita educação e profissionais polivalentes, multifuncionais,
alertas, curiosos – pessoas que se comportam como o aluno interessado o tempo
todo”.
Para atender à demanda por
mão de obra qualificada o Brasil procura oferecer uma Educação Profissional
visando formar um profissional que transite pelas Ciências, Linguagens,
Humanidades e suas Tecnologias. Já não se concebe o profissional que tenha
apenas habilidades técnicas/tecnológicas, daí sua formação
9
requerer uma abordagem humanista que lhe
faça reconhecer seu valor de sujeito sócio-histórico e cultural, apto a
participar de forma ativa e crítica na sociedade da qual participa, entendendo
que pode e deve transformá-la em benefício coletivo.
A nova organização do trabalho
não requer um sujeito que esteja qualificado para exercer apenas uma função
exclusiva, hoje o trabalhador precisa ter várias habilidades e conhecimentos
para se movimentar em vários setores, ou seja, o modelo atual de trabalho
requer uma formação ampla do sujeito, com vastos conhecimentos e
possibilidades.
Considerando a complexidade da realidade em que vivemos quando a
globalização passa ser o fenômeno de maior responsabilidade pelas
transformações no modo de vida e, em particular, na manutenção da vida, pelo
processo de trabalho, desenvolvimento econômico e tecnológico, faz-se
necessário compreender os arranjos produtivos locais como novas políticas que
favorecem o desenvolvimento do país já que não dá mais para contextualizar as
empresas de hoje em setores, complexos industriais e cadeias indústrias, como
em tempos remotos.
Assim, é urgente pensar em economia associada ao espaço para compreender
as razões do sucesso competitivo de aglomerações de MPEs (Micro e Pequenas
Empresas) como o que acontece em algumas regiões de países em desenvolvimento
em que agentes econômicos, interagindo entre si, obtêm desempenhos
significativos. Logo, com este entendimento há grandes possibilidades de
soluções criativas de desenvolvimento sustentável, por meio da articulação, de
processo de aprendizado interativo, de inovação, capacitações locais levando em
consideração o conhecimento tácito que passa a adquirir significativa
importância nestes processos, assim como as instituições e organizações, suas
políticas e todo o ambiente sociocultural onde se inserem os agentes econômicos
para a promoção de uma dinâmica regional, induzindo à geração de emprego e de
renda e, consequentemente a melhoria da qualidade de vida local.
No Brasil, mesmo que a industrialização se caracteriza pela promoção de
grandes empresas, tanto nacionais como estrangeiras, são significativas as
atividades de empresas de pequeno porte que geram grande parte dos empregos na
10
economia
nacional e sua promoção seria uma grande saída para o desenvolvimento econômico
local ou regional. Neste sentido, não basta perceber a empresa individual, mas
também é preciso considerar as relações entre as empresas e entre estas e as
demais instituições dentro de um espaço geograficamente definido, levando em conta
também as características do meio onde estão inseridas, para que sejam focos de
intervenção do Estado na promoção da política industrial e tecnológica
adequadas aos avanços necessários da nação.
A importância que se deve dar à territorialidade é compreendê-la na sua
forma mais complexa, configurando a abordagem neoshumpeteriana, novo enfoque
paradigmático, técnico econômico citadop por Cassiolato e Lastres apud Hanna Arendt não apenas como recursos naturais vitais
escassos e sim como o que extrapola as inovações em computação eletrônica,
engenharia de software, sistemas de controles, circuitos integrados e
telecomunicações a fim de que haja redução de custos, de armazenamento,
processamento, comunicação e disseminação de informação e mudanças nas formas
de organização da produção, bem como distribuição e consumo de bens e serviços.
Nesta nova dimensão, os arranjos com inovação organizacional, com redes
de empresas e destas com outras organizações viabilizam a equiparação, nas
mesmas proporções, a abrangências das redes com a competitividade das empresas
e suas organizações.
Labor,
Trabalho e Práxis
Para Hanna Arendt o “labor” é
processo biológico necessário para a sobrevivência do indivíduo e da espécie
humana. O “trabalho” é atividade de transformar coisas naturais em coisas
artificiais, por exemplo, retiramos madeira da árvore para construir casas,
camas, armários, objetos em geral. É pertinente dizer que, para a autora, o
trabalho não é intrínseco, constitutivo, da espécie humana, em outras palavras,
o trabalho não é a essência do homem. O trabalho é uma atividade que o homem
impôs à sua própria espécie, ou seja, é o resultado de um processo
cultural. O trabalho não é ontológico como imaginado por Marx. Por último a
“ação”
11
(práxis). A ação é a necessidade do homem em
viver entre seus semelhantes, sua natureza é eminentemente social. O
homem quando nasce precisa de cuidados, precisa aprender e apreender, para
sobreviver. Qualquer criança recém-nascida abandonada no mato morrerá em
questão de horas. Por isso dizemos que assim como outros animais o homem é um
animal doméstico, porque precisa aprender e apreender para sobreviver. A mesma
coisa não acontece com aqueles animais que ao nascer já conseguem sobreviver
por conta própria, sem ajuda. A qualidade da ação supõe seu caráter social ou
como escreve Hannah, sua pluralidade.
Voltando sobre a distinção entre
trabalho e labor. O labor é trabalho gasto para produção de alimentos. A força
de trabalho é aquilo que o homem possui por natureza, só cessa com a morte.
Diferente do produto, a força de trabalho não acaba quando o produto termina de
ser produzido. Portanto, a força de trabalho é aquilo que Hannah Arendt entende
por “labor”. “O labor não deixa atrás de si vestígio permanente”. Portanto, é o
que mantém a saúde do indivíduo. Só assim ele poderá trabalhar. Nesse aspecto o
labor é pré-requisito do trabalho. O que quer dizer isso? Não é possível,
(dentro dos termos de Arendt), existir trabalho sem labor, ainda que seja
possível o inverso. Ao passo que o labor produz a matéria para incorporá-la ao
organismo, o trabalho a produz para que esta seja usada na produção de outros
objetos e na materialização do abstrato.
Outra distinção entre trabalho e
labor consiste em que, enquanto o labor exige o consumo rápido ou imediato, o
trabalho não. A lógica do trabalho é a durabilidade dos objetos. Sua
durabilidade permite a acumulação e estoque dos objetos. Num mundo onde labor e
trabalho se confundem (fazendo com que a lógica capitalista e seus “objetos de
consumo” se tornem poderosíssimos) o maior sonho do homem é construir uma
techné da práxis, uma ciência política e assim poder prever suas ações e, caso
erre (as chances diminuem), poder revertê-las.
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Conclusão
O homem trabalha para adquirir bens
necessários à sua sobrevivência e para satisfazer seus desejos. A história do
trabalho é, foi e continua sendo uma luta de classe e de poder, diante desse
fato o homem busca se especializar cada vez mais para conquistar seu lugar no
mundo do trabalho e consequentemente ter uma posição social o que unido às
novas tecnologias e tendências do mercado provocou um “boom” na busca por melhor qualificação profissional tanto por parte
do trabalhador quanto por parte do governo e das empresas, visto que o trabalhador qualificado se tornou um ativo valiosíssimo e o governo com o intuito de aumentar a renda
familiar e manter a circulação de dinheiro no mercado interno viu na
qualificação profissional local uma fonte de progresso econômico e social para
o país criando assim projetos e escolas profissionalizantes que suprem a falta
de profissional qualificado diminuindo a necessidade de exportação dessa mão de
obra. Essa nova proposta de educação
profissional pretende não formar para o exercício da profissão, mas também
formar para o pleno exercício da cidadania e progressão nos estudos.
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Referências
ALVES, Giovanni. Trabalho e mundialização do capital: a nova degradação do trabalho na era da globalização. Londrina: Práxis, 1999.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense Universitária, 2009.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Concepções no mundo do trabalho e o ensino médio. In.: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA Maria; RAMOS, Marise. Ensino Médio Integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005.
HANDFAS, Anita. Década de 1990: a reestruturação Produtiva e a educação do trabalhador. IN: FRIGOTTO, Gaudêncio & CIAVATTA, Maria (Orgs.) A formação do cidadão produtivo – A cultura de mercado no ensino Médio Técnico. Brasília, INEP, 2006.
HAYEK, Frederik A. O caminho da servidão. São Paulo: Instituto Ludwig Von Mises Brasil, 2010. Disponível em http://www.mises.org.br/files/literature/O%20CAMINHO%20DA%20SERVID%C3%83O%20-%20WEB.pdf acesso em 2/12/2013.
HUBERMAN, Leo. A história da riqueza do homem. RJ: LTC, 1986.
PASTORE, J. O futuro do trabalho no Brasil. Brasília: Em Aberto, ano 15, n. 65.
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